terça-feira, 23 de outubro de 2012

Livro na árvore.

De vez em quando, a "Árvore de Todos" nos dá de presente um livro para ser lido em grupo e em círculo. Esta árvore é a maior do Quintal, por isso não pertence a um ou outro e sim a todos nós, pois nos dá sombra e cuida das nossas árvorezinhas. 
(Sabedoria infantil)
 


Ao chegarmos, somos surpreendidos com este presente, levamos nossos banquinhos e juntos, saboreamos a história. No primeiro dia, estava fazendo um pouco de frio, o céu com cara de chuva estimulava mais ainda a imaginação a respeito da frieza. Uma das meninas,  a quem chamaremos de R., disse que estava com muitoooo frio, eu ofereci meu capote, ela aceitou. Mas, como era de se esperar, ficou bem grande, as mangas passavam muito das mãos. Subitamente a criança G. de 04 anos disse:

- Deixa eu te ajudar. Eu sei dobrar a manga.
E mostrou como fazia no capote dele, depois, perguntou se ela queria que ele fizesse no dela. Ela aceitou e ele fez.

Generosidade, amizade, amor, carinho, espontaneidade, segurança, preocupação com o outro... Tudo isso apenas com um estímulo absolutamente involuntário. 
Reforcei o ato dizendo que seu gesto tinha sido muito bonito, expliquei que R. nem havia pedido e ele se propôs a ajudar, que nem sempre precisamos esperar alguém pedir ajuda para ajudar, podemos ajudar nossa mãe arrumando a nossa cama, por exemplo... A partir daí surgiu uma longa conversa sobre o que seriam atos generosos.
Um exemplo para não esquecer !

A COMPLICADA ARTE DE VER
Rubem Alves

"... Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver."